sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
capítulo I - espelho
Clarissa gosta de:
morder o cantinho do copo de plástico. adora olhar para as janelas dos prédios e tentar adivinhar qual luz vai acender. chora fácil. às vezes é neurótica, mas sabe se controlar. analisa quem não conhece e ri sozinha. dorme virada para o lado direito da cama. adora as velhinhas e velhinhos que ainda andam sós na rua. ouve música e pensa na vida. fala enquanto come e ama ovelhas.
ela ainda não saberia o que está por vir em sua breve existência, como todos os imortais, até o dia em que achou na calçada um cabideiro de madeira que ninguém queria mais...
O cabideiro gosta de:
pendurar roupas. ele acha que as bolsas e jóias devem ficar na cômoda das moças. ficar empoeirado para as roupas limpas irem para o armário. ouvir jazz. bambear igual joão bobo quando alguém esbarra. ir para o restaurador de 36 em 36 anos.
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
alvorada perto do morro que beleza
- olha a pimenta gostosa e danada!
- a minha banana é melhor!
eita...
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
era uma casa muito engraçada...
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
gaijin sem gogó
Quem chega em Inajá logo percebe que a cidade nunca se apaga, está em constante estado de Natal. Lá nasceu Graciliano, o Graci, fruto de um município no norte do Paraná, que abriga exatamente 3.055 habitantes. Com 14 dias de nascido, Graci foi morar em Manancial, pois o pai vivia da pesca. Teve uma infância espoleta, entardeceres quentes na beira do rio, descalço, na companhia do pai, todos os meninos que crescem junto aos pais são felizes, peixe no almoço e na janta, dentes brancos e pele de gente da cidade. Ao completar 15 anos, como um telegrama, seu Jurandir manda o filho para Nova Esperança.
Gado novo na cidade, as meninas se encostavam lixando as unhas nas portas das lojinhas para verem Graciliano passar. Em uma semana, conheceu e se apaixonou perdidamente por uma japonesa. Sonhava com ela, seu olhar lânguido, e, à noite, ao deitar-se, penava para decorar os galanteios que faria à moça.
Desde menino, Graci não puxou o pai. Na escola, era caçoado pelo jeito feminino, pela pele macia e pela delicada inteligência. Mais tarde, veio a quase psicopatia do gogó, ou melhor, a falta dele. Logo que chegou em Nova Esperança, arranjou emprego como entregador em uma farmácia. O braço direito do farmacêutico, chamado Akira, ficou sabendo de sua paixão pela japonesa e riu alto, tão alto, que acordou o felino que dormia perto da lixeira de seringas usadas.
Na festa da colheita, encontro marcado, sorrisos de lado, viraram amigos por um dia. Como nas tardes felizes dos casais de filmes românticos, fizeram toda a rota passeio de barco-deitar na grama e olhar o céu-rolando e caindo em cima de você, mas sem beijo-olhos nos olhos-flores para ti-o tempo está acabando... Na volta para casa, no fusca do amigo mais velho, o breu do banco de trás, mão com dedos carinhosos no ombro e: o beijo. O beijo que saiu pela janelinha do fusca e foi dançar com o vento frio da madrugada, passando pelo voar bambo da borboleta de manhã e entrou no ouvido de Akira como uma espada ninja.
Agora, a nissei Ana era o seu sonho realizado. Vitória do gaijin sem gogó sobre o ninja Akira derrotado. O pouco tempo em que ficaram juntos permanece, ainda hoje, como lição. Não se ri dos sonhos alheios. Se rirem dos seus é motivo, apenas, para realizá-los.
Hoje, na cidade grande, Doutor Graciliano, 43 anos, farmacêutico, sabe o que é o amor, mas não tem um. Ele continua a sonhar...
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domingo, 30 de setembro de 2007
anti poesia
Somos um grão de sal no mar do céu.
Moska
&
Drexler
15:49
o telefone toca e Clarissa não ouve. o barulho das ondas do mar, na beira do mar, é sempre maior que qualquer outro som.
15:50
Clarissa mexe na bolsa e vê a ligação perdida. liga de volta e uma voz atende. uma voz de braços e pernas, uma cabeça de alto falante. timbre timbrado pelo correio eletrônico, com promessas de amor feitas de longe, ao longo de longos dias, debaixo dos caracóis dos seus cabelos.
15:51
Clarissa lembra do episódio do chuveiro e solta a gargalhada que costuma ficar presa no pulmão de quem fuma pouco.
15:53
num dia de pouco sol e muita luz, os cadernos de escritos ficam cheios de pensamentos bobos e alegres, quando você não os esquece em casa (os cadernos). antes de ir para casa, Clarissa olha mais um monte o mar, todo encrespadinho. à tarde ele costuma dar piti porque não existem mais tatuís cavucões e os prédios agora tapam o restinho do sol do céu azul e rosa do espírito santo do santo Estado.
(definitivamente, os celulares e a tecnologia não são nada poéticos).
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sexta-feira, 28 de setembro de 2007
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
'O ano em que meus pais saíram de férias', de Cao Hamburger, representará o Brasil no Oscar
‘O ano em que meus pais saíram de férias’ foi a produção escolhida para tentar uma indicação na categoria de filme estrangeiro no Oscar. O filme derrotou o favoritismo de "Tropa de elite", que havia estreado em apenas um cinema de Jundiaí antes de entrar nacionalmente em circuito, com o objetivo de concorrer à vaga.
O anúncio foi feito pelo Ministério da Cultura nesta quarta-feira (26), no Rio de Janeiro. Uma comissão formada pelos jornalistas Ana Paula Sousa e Pedro Butcher, os cineastas Hector Babenco e Bruno Barreto e os críticos Rubens Ewald Filho e Leon Cakoff elegeram o título entre os 18 que concorriam à vaga. Os cinco indicados à categoria de filme estrangeiro serão anunciados no dia 22 de janeiro, e a cerimônia do Oscar ocorre em 24 de fevereiro.
"O ano em que meus pais saíram de férias" é o segundo longa de Hamburguer e retrata uma criança que viaja com os pais de Minas Gerais para São Paulo. Eles dizem que vão tirar férias e, por isso, deixarão Mauro (Michel Joelsas) na casa do avô (Paulo Autran, em participação especial) por um tempo. O motivo da separação temporária é que os pais de Mauro estão sendo perseguidos pelo regime militar. O pano de fundo do filme é a Copa do Mundo de 1970 e o tricampeonato da seleção brasileira de futebol.
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terça-feira, 25 de setembro de 2007
censura
sábado, 8 de setembro de 2007
saudosa caligrafia
de vez em quando sou surpreendida com algo escrito à mão, e é bom olhar para a caligrafia, por vezes perder um pouco mais de tempo a decifrar o que está escrito ali, relembrando um tempo em que havia tempo até para ler pausadamente. quantas pessoas, algumas até relativamente bem próximas de nós, conhecemos mas que nunca vimos a caligrafia? e você? conhece a minha caligrafia? será que eu conheço a sua? se sim, há quanto tempo não trocamos um texto escrito à mão? se não, quando será que vamos fazer um intercâmbio caligráfico?
domingo, 2 de setembro de 2007
o casamento de pollyana
sábado, 25 de agosto de 2007
pausa para Adélia
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Objeto de amor
De tal ordem é e tão precioso
o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem a sensação de um roubo:
cu é lindo!
Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.
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(Adélia Prado)
terça-feira, 21 de agosto de 2007
três minutos e vinte e seis segundos de rebeldia
políticos usam mentiras para encobrir a verdade, artistas usam mentiras para contá-la. dêem-me uma máscara e lhes direi.
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
carta de Freeda para um hermitão
domingo, 5 de agosto de 2007
cheiro de tomilho
Na mesma noite, Alvelina saiu de sua cidade e chegou a outra. Outro Estado, outro estado de espírito, não tão santo quanto àquele em que vivia. O lugar era frio como um inverno constante, e as bebidas típicas eram feitas com a água pura que descia das cachoeiras. Lá se hospedou na casa do primo distante do lendário Obelix, o nem tão grande assim, Chamonix. A casinha era pequena, como se tivesse saído de uma história infantil, daquelas que acontecem no meio das florestas. Os móveis eram de madeira maciça e havia buracos nas janelas e maçanetas em forma de coração.
Estava reservado para Alvelina o quarto 314, a penúltima porta no final do corredor. Deitou-se coberta por uma manta tão peluda quanto um urso e esperou a chegada de Eugênio. No cair da noite, ele chegou.
O silêncio não incomodava. Aliás, era costume, pois Eugênio não era mesmo de muitas palavras - faladas. Eugênio era da família Andrade e viajava muito a trabalho. Desde que era toquinho, vendo o tio trabalhar nas apresentações da cidade, aprendeu a ligar microfones e caixas de som. Aos 14, saiu da barra do vestido de dona Dione para o distrito de São João dos Calçados em busca do primeiro trabalho. E, ao longo dos anos, todas as horas que passou a ver estradas, noites e o azul escuro fizeram com que falasse menos. De quando acordava até o meio dia, só proferia um bom dia, Alvinha antes de tomar meia xícara de café amargo.
Às nove da manhã, as borboletas tigradas dançavam balé russo de um lado para o outro, quando Alvelina e Eugênio partiram para a próxima cidade. A caravana do circo Havengar passaria às oito e quarenta e cinco da noite. Descendo a serra, as árvores respirando, a poeira levitando, as formigas passeando e a senhora na janela pensando eram sensíveis aos ouvidos:
- Aparentemente este ano não preciso podar o tomilho. Todo dia vejo pela janela uns pardais arrancando raminhos de tomilho. Vai ficar uma casinha tão perfumada!
sábado, 28 de julho de 2007
Nice do Canto
Perto da minha casa existe um shopping cool, há três meses está na moda. Um lugar chique, fino, pessoas elegantes, ricas, bem sucedidas, amadas, alegres, gargalhadas. Os homens calados, os que têm a carteira, riem, carecas, porque o contrato é muito lucrativo, menos não o sendo na moeda. A legalização da profissão de prostitutas ainda tramita no congresso (sic) (não merece estar em maiúsculo), mas as prostitutas aristocráticas sempre estiveram na legalidade. Casam para trepar em troca de uma mesada e de algumas jóias do Nilo. As que estão na rua e não no sofá alisando calmamente seus cachorros, fazem por necessidade; as outras, por puro luxo.
No mesmo ambiente, garçons bem vestidos levam e trazem quiches, capuccinos, velinhas na mesa para dar o clima aconchegante de Campos do Jordão, espumantes franceses, licores... Nas cidades que não são do interior, quando a temperatura baixa, os casacos comprados na Europa ou nas grifes perto de casa saem como fantasmas do armário e as meias-calças andam como a mão da Família Adams. As mulheres super arrumadas, maquiadas, com sombras multicoloridas e maxi bolsas; todas eram maxi bolsas. Olhei para a minha com desprezo, tão pequenina que mal cabia a carteira.
Maxi será o meu mundo.
E a moda, volúvel; assim como o meu amor.
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segunda-feira, 23 de julho de 2007
(S)Eu Mapa
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um mapa mundi
em mim
um navegador, você
nau veloz pelos meus
mares
ares
a dimensão do oceano
você em meus planos
.....................................................cantos
a baixar meus santos
banhar outros continentes
gosto de você pertinente
OCUPANDO minha mente
para que pente?
.......sua língua
não quero mais escovar os dentes.
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quinta-feira, 19 de julho de 2007
curtas
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vodka faz você dar seta na garagem.
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se o técnico do computador vem, a calcinha está em cima da cama.
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as pulseiras novas fazem muito barulho.
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o calendário só aparece quando a data já passou.
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quem inventou o calendário?
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e esse blog lendário?
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terça-feira, 10 de julho de 2007
os de antropologia são meus
Hoje era o dia. Era o dia de pegar as suas coisas e de tirar o fio desencapado da tomada. Clarissa chegou por volta das dez da noite, e, assim que entrou na Curva do Saldanha, o coração ficou pequeno. Agora era o meio do caminho e ela seguiria em frente. A rua, as esquinas e os prédios que antes abriam passagem para a pressa da chegada e para a ansiedade, agora se multiplicavam para deixar o tempo passar.
Será que ele está em casa?, pensava. Não importava saber, já que estava a uma praça da casa dele. Como de costume, buzinou para avisar que estava lá embaixo. A vira-latas Brigitte logo se atiçou no portão. Subiu lentamente as escadas, circundadas das plantas que plantara; agora grandes. Ficou orgulhosa do tomate-cereja samambaia, que logo iria avermelhar.
Sem palavras, o som era de uma música estranha, nova. No cinzeiro, metade de um charuto e as guimbas de sempre. Objetos antigos e livros espalhados pela sala. Clarissa começou a escolher os que queria. Há um mês, os livros haviam sido levados da famosa biblioteca da família Ramalhete, e agora, era a hora da partilha.
- Posso pegar este? – pergunta Clarissa.
- Pode levar o que você quiser.
Guimarães Rosa, Drummond, Simone de Beauvoir, Augusto dos Anjos, Elmo Elton, Nelson Werneck Sodré, Gilberto Freyre, Dines, Machado, Maupassant, Vinícius, Proust, dentre dicionários e livros de conversação em francês e italiano. O livro espanhol sobre orquídeas brasileiras era mais bonito que uma penteadeira do século XVIII. Ela gostou do livro sobre a história do Jazz, mas sabia que ele não iria deixar.
- E este, pode?
- Não, os de antropologia são meus – disse ele.
Disfarçadamente andou para dentro da casa. O pé direito alto faria falta de tanto ar, os quadros alegres que a irmã copiava de Miró, as casinhas coloridas de cerâmica na parede da porta de entrada, o tapete, o jarro quebrado. A gata estava no cio. A geladeira com os vidros de água vazios. O queijo e a salada no mesmo lugar. No banheiro, o chuveiro que antes era bastidor para uma noite sem fim, agora era um quadrado de azulejos azuis. Triste como os azulejos azuis.
Mais alguns minutos de poeira e mãos sujas, até a descida para o carro. Depois da última sacola, ele a chamou para fumar o último baseado. Ela sabia que não era. Ainda precisava voltar para pegar o violão e as xícaras de chá de maçã.
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quinta-feira, 8 de março de 2007
vamos aproveitar o dia
parabéns mulheres que encantam com livros e palavras, por mais esse dia dedicado a todas nós. parabéns também à minha mãe, irmã, avós, tias, primas, amigas-irmãs, as de todas as horas, dias e lugares, as que eu amo e as que eu nem gosto tanto, mulheres escritoras, poetas, cantoras, artistas...
um dia que nem inspirou tanto assim, mas deu o sossego de uma vida inteira e uma chuvinha de lágrimas...
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
eufante
para andar beeeeeem devagar e tomar banho
em qualquer lugar.
por falar no bichano, o elefante africano
está em vias de extinção devido ao aumento
do comércio de marfim, proibido em 1989 por
um tratado internacional.
a revista "Proceedings of the National Academy
of Sciences" publicou um artigo sobre o assunto
este mês.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
Barra Seca, por Miguel Marvilla
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007
achado em um caderno
se fico muito tempo sem ver multidão,
fico triste, branca, um ponto final.
na hora de ir para o jardim, as flores
murcharam porque não ouviram voz de
festa, nem o abraço da carlota.