sexta-feira, 10 de outubro de 2008

surpresas

gosto de surpresas.

não vou querer saber o sexo do meu filho até ver o médico
levantá-lo na minha frente depois do parto.
por isso não gosto de saber quando os amigos vão ligar,
meu IPOD não tem visor para eu não saber qual música vai tocar,
por isso que viajo, por isso vejo filmes,
por isso quero fazer cinema.

por isso tenho amigos,
e por isso me casei.

dá-lhe aquariana!



até a morte é uma surpresa.

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domingo, 24 de agosto de 2008


"sentei-me na praia e quando dou pela coisa o mar me beijava"

Humberto del Maestro




e foi mais ou menos assim que aconteceu.
agora vou tomar banho para esperar ele chegar.




sábado, 23 de agosto de 2008

chegar é dizer adeus


tempos atrás li um texto do João Paulo Cuenca sobre chegar de volta na sua cidade natal e onde você passou a maior parte da sua vida (até agora). 

ele diz que o cotidiano acaba por domesticar não apenas os nossos hábitos, mas também os nossos olhares e lembranças sobre a cidade onde vivemos, sobre as ruas onde depositamos o nosso passado - e a invenção desse passado.

por isso, depois de poucos meses longe de casa, o retorno faz o homem enxergar suas esquinas de estimação com outros olhos. as odisséias mudam, acima de tudo, as cidades de onde partimos. nesse sentido, é como se não houvesse regresso possível, seja ao Rio de Janeiro, Vitória, Ilha da Madeira ou Nice. 

talvez por esse motivo certos barcos adiem a hora de atracar no cais. muitos desistem, dão meia volta ou queimam suas próprias velas. com ou sem alguém à espera, a cidade de partida jamais será a que se encontra na volta.

 

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

sutileza

máxima este filme.



"Amor à flor da pele", de Wong Kar-Wai.


elegância, bom gosto, delicadeza e cereja de tango. quase um bolo de chocolate com cobertura.


;)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

quem vai me contar a história da serpente negra?



Dr. Milton David, o meu avô


"De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre começando, a certeza de que é preciso continuar, a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar. Portanto, devemos fazer da interrupção um caminho novo, da queda um passo novo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um reencontro."

(Fernando Pessoa)


Nosso eterno amor; saudades, saudades, saudades.

domingo, 27 de julho de 2008

não diga Bye Bye

Ontem assisti novamente e não me canso. Reconhecimento devido a todos, mas o Wilker de Lorde Cigano chega a ser melhor que o Vadinho de "Dona Flor e seus dois maridos".

Olhem o vento... e vejam!


segunda-feira, 7 de julho de 2008

o corpo é uma festa

O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.



Eduardo Galeano


quinta-feira, 19 de junho de 2008

spaghetti western

Hoje assisti um filme de Sergio Corbucci e fiquei impressionada. Li mais sobre ele e confirmei: ele tinha a visão mais sombria no Spaghetti Western*. Personagens bizarros, situações surreais e violência extrema marcaram a sua obra. Corbucci atingiu um requinte na direção que poucos conquistaram. Para muitos ele foi o maior do gênero.

*O Spaghetti Western (faroeste italiano) foi um gênero que revolucionou o cinema nas décadas de 60 e 70.




Ah, a propósito, minha avó ama 'faroas', como ela mesma diz.
Beijo, dona Licinha!
Saudades de você e da sua comidinha de vovó.
#)

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quarta-feira, 18 de junho de 2008

receita de literatura brasileira

Ingredientes:
- 1 livro de autor brasileiro
- 1/2 tarde livre
- 1 caneta marca-texto da cor que preferir

Modo de fazer:
Escolha um capítulo aleatoriamente ou o que você mais gostar. Marque as frases (também podem ser palavras) que você mais gostar e se identificar. Depois escreva-as juntas em um papel separado. Leve ao forno e depois dê de presente para um amigo que merecer - ou não.



Receita pronta; voilá!
A minha ficou assim:

às vezes as idéias não vêm, ou vêm muito numerosas. reprodução imperfeita de fatos exteriores. não vale a pena tentar corrigi-las. as árvores do pomar tornavam-se massas negras. é uma irritação antiga que me deixa inteiramente calmo. bato na mesa e tenho vontade de chorar. ameaço Madalena com o punho. esquisito. temos que atravessar um corredor comprido. se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? o que vai acontecer será muito diferente do que esperamos.


Capítulo 'Madalena' do livro São Bernardo, de Graciliano Ramos.

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domingo, 15 de junho de 2008

semana 28

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venho trocando a noite pela metade do meu dia; eu e ele.
comecei a exercitar o corpo diariamente e tenho gostado.
dizem que faz bem e é mesmo verdade.
não falo todo dia com minha mãe, mas sinto falta dela todo dia.
ontem assisti a dois filmes: bons planos e tristes.
fui dormir pouco antes do sol aparecer e acordei agora.
em poucos minutos comerei um mamão.
alguns livros me esperam, outros insistem em fugir das minhas mãos.
a prateleira está inclinada e tenho medo que ela caia,
a casa está suja e eu finjo que limpo.
Amanhã outra semana começa e
Amanhã outra semana começa e
Amanhã outra semana começa e



Vou fazer a que vim;
onde as peças não encaixam nem em mim.
Se demora, eu espero. Se demora, eu espero.
Se eu demorar, será voltar ou viajar?
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sexta-feira, 6 de junho de 2008

aldeia



Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar
para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os
nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.


Alberto Caeiro
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sábado, 17 de maio de 2008

quinta-feira, 3 de abril de 2008

cinema, dramins e cachorros



o cinema e eu interrompemos capítulos de um livro.

mesmo andando juntos, arte conjunta, cinema e literatura, vez ou outra descambo para um lado ou outro.

aproveitando o ensejo, deixo aqui para o deleite das espécies, homens, mulheres, trans ou whatever o que você for, fotos da mulher mais bonita que o mundo já viu.

a propósito, Brigitte era o nome da minha cachorra vira-latas mais cavadeira de buracos que já tive. hoje não sei onde ela está, se vive ou se jazz. sinto saudades.

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domingo, 27 de janeiro de 2008

capítulo 2 - suavidade barulhar


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O sol das nove entra pela cortina. Meia luz, vontade de dormir mais. O dia chama, começa como na bíblia, cada dia um dia importante, de profetas na rua, especiarias que nascem, árvores que aumentam centímetros, a cidade cresce.

Clarissa está na vertical, procurando um vestido no armário. A herança da avó por parte de mãe assegura caprichos, como ter uma arara azul no jardim. A cozinha tem portas de madeira e uma mesa de jacarandá. Um cacho de bananas prata decora a mesa, com retalinhos que Clarissa juntava para costurar uma colcha. No assoalho, ratos, ratinhos, não se sabia o tamanho, nem a quantidade de membros da família, mas as reuniões de domingo eram bem agitadas.

Toc, toc. Clarissa bate o pé no chão. Tinha medo deles. Que ficassem lá embaixo pelo menos. Sapatos e meias nos lugares, algumas torradas garlic na mão, saiu para o trabalho. Até a loja de discos, passava por quatro ruas, atravessava a Praça dos Prazeres, cortava caminho pelo beco do seu Orestes.


- Bom dia.
- Clarissa menina, está na hora de almocar. Limpe as prateleiras e não esqueça de arrumar os discos de blues, separando por ano e cor. Volto logo.

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