sexta-feira, 26 de junho de 2009

ser ou não ser?

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de vez em quando eu esqueço (de propósito) a minha "mulherzice". digo sim que sou uma mega mulherzinha, sei ser fofinha, meiguinha, mas que saco. hoje me enche o saco ser boazinha. sinto gana de ser sombria, silenciosa, ficar pelos cantos. aí eu lembro que tenho chaveiro de bichinho, três travesseiros pequenos de criança, me acabo na prateleira de esmaltes da farmácia, e adoro usar rosa, azul e verdinho. tem dias que acordo querendo morar em NY e me empanturrar de coisas novas enquanto digito em meu MacBook histórias da minha vida glamourosa. ou talvez eu apenas queira ter o que escrever, sobre o que divagar nesta sexta-feira chata.

aliás, eu acho que eu preferia morar numa fazenda perto da cidade, de uma cidade pequena.

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terça-feira, 16 de junho de 2009

poema "V"

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que ideia tenho eu das cousas?
que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
que tenho eu meditado sobre deus e a alma e sobre a criação do mundo? não sei.

para mim pensar nisso é fechar os olhos e não pensar.
é correr as cortinas da minha janela (mas ela não tem cortinas). o mistério das cousas? sei lá o que é mistério!

o único mistério é haver quem pense no mistério. quem está ao sol e fecha os olhos, começa a não saber o que é o sol e a pensar muitas cousas cheias de calor. mas abre os olhos e vê o sol, e já não pode pensar em nada.

porque a luz do sol vale mais que os pensamentos de todos os filósofos e de todos os poetas. a luz do sol não sabe o que faz e por isso não erra e é comum e boa.

se deus é as flores e as árvores e os montes e sol e o luar, então acredito nele, então acredito nele a toda a hora, e a minha vida é toda uma oração e uma missa e uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

mas se deus é as árvores e as flores e os montes e o luar e o sol, para que lhe chamo eu deus?

chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
porque, se ele se fez, para eu o ver,
sol e luar e flores e árvores e montes,
se ele me aparece como sendo árvores e montes
e luar e sol e flores, é que ele quer que eu o conheça
como árvores e montes e flores e luar e sol.

e por isso eu obedeço-lhe,
(que mais sei eu de deus que deus de si próprio?),

obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
como quem abre os olhos e vê,
e chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,

e amo-o sem pensar nele,
e penso-o vendo e ouvindo,
e ando com ele a toda a hora.




"o guardador de rebanhos"
alberto caeiro