domingo, 27 de janeiro de 2008

capítulo 2 - suavidade barulhar


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O sol das nove entra pela cortina. Meia luz, vontade de dormir mais. O dia chama, começa como na bíblia, cada dia um dia importante, de profetas na rua, especiarias que nascem, árvores que aumentam centímetros, a cidade cresce.

Clarissa está na vertical, procurando um vestido no armário. A herança da avó por parte de mãe assegura caprichos, como ter uma arara azul no jardim. A cozinha tem portas de madeira e uma mesa de jacarandá. Um cacho de bananas prata decora a mesa, com retalinhos que Clarissa juntava para costurar uma colcha. No assoalho, ratos, ratinhos, não se sabia o tamanho, nem a quantidade de membros da família, mas as reuniões de domingo eram bem agitadas.

Toc, toc. Clarissa bate o pé no chão. Tinha medo deles. Que ficassem lá embaixo pelo menos. Sapatos e meias nos lugares, algumas torradas garlic na mão, saiu para o trabalho. Até a loja de discos, passava por quatro ruas, atravessava a Praça dos Prazeres, cortava caminho pelo beco do seu Orestes.


- Bom dia.
- Clarissa menina, está na hora de almocar. Limpe as prateleiras e não esqueça de arrumar os discos de blues, separando por ano e cor. Volto logo.

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