segunda-feira, 8 de outubro de 2007

gaijin sem gogó


Para Walmir, com amor...




Quem chega em Inajá logo percebe que a cidade nunca se apaga, está em constante estado de Natal. Lá nasceu Graciliano, o Graci, fruto de um município no norte do Paraná, que abriga exatamente 3.055 habitantes. Com 14 dias de nascido, Graci foi morar em Manancial, pois o pai vivia da pesca. Teve uma infância espoleta, entardeceres quentes na beira do rio, descalço, na companhia do pai, todos os meninos que crescem junto aos pais são felizes, peixe no almoço e na janta, dentes brancos e pele de gente da cidade. Ao completar 15 anos, como um telegrama, seu Jurandir manda o filho para Nova Esperança.

Gado novo na cidade, as meninas se encostavam lixando as unhas nas portas das lojinhas para verem Graciliano passar. Em uma semana, conheceu e se apaixonou perdidamente por uma japonesa. Sonhava com ela, seu olhar lânguido, e, à noite, ao deitar-se, penava para decorar os galanteios que faria à moça.

Desde menino, Graci não puxou o pai. Na escola, era caçoado pelo jeito feminino, pela pele macia e pela delicada inteligência. Mais tarde, veio a quase psicopatia do gogó, ou melhor, a falta dele. Logo que chegou em Nova Esperança, arranjou emprego como entregador em uma farmácia. O braço direito do farmacêutico, chamado Akira, ficou sabendo de sua paixão pela japonesa e riu alto, tão alto, que acordou o felino que dormia perto da lixeira de seringas usadas.

Na festa da colheita, encontro marcado, sorrisos de lado, viraram amigos por um dia. Como nas tardes felizes dos casais de filmes românticos, fizeram toda a rota passeio de barco-deitar na grama e olhar o céu-rolando e caindo em cima de você, mas sem beijo-olhos nos olhos-flores para ti-o tempo está acabando... Na volta para casa, no fusca do amigo mais velho, o breu do banco de trás, mão com dedos carinhosos no ombro e: o beijo. O beijo que saiu pela janelinha do fusca e foi dançar com o vento frio da madrugada, passando pelo voar bambo da borboleta de manhã e entrou no ouvido de Akira como uma espada ninja.

Agora, a nissei Ana era o seu sonho realizado. Vitória do gaijin sem gogó sobre o ninja Akira derrotado. O pouco tempo em que ficaram juntos permanece, ainda hoje, como lição. Não se ri dos sonhos alheios. Se rirem dos seus é motivo, apenas, para realizá-los.





Hoje, na cidade grande, Doutor Graciliano, 43 anos, farmacêutico, sabe o que é o amor, mas não tem um. Ele continua a sonhar...
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