sábado, 28 de julho de 2007

Nice do Canto



Perto da minha casa existe um shopping cool, há três meses está na moda. Um lugar chique, fino, pessoas elegantes, ricas, bem sucedidas, amadas, alegres, gargalhadas. Os homens calados, os que têm a carteira, riem, carecas, porque o contrato é muito lucrativo, menos não o sendo na moeda. A legalização da profissão de prostitutas ainda tramita no congresso (sic) (não merece estar em maiúsculo), mas as prostitutas aristocráticas sempre estiveram na legalidade. Casam para trepar em troca de uma mesada e de algumas jóias do Nilo. As que estão na rua e não no sofá alisando calmamente seus cachorros, fazem por necessidade; as outras, por puro luxo.

No mesmo ambiente, garçons bem vestidos levam e trazem quiches, capuccinos, velinhas na mesa para dar o clima aconchegante de Campos do Jordão, espumantes franceses, licores... Nas cidades que não são do interior, quando a temperatura baixa, os casacos comprados na Europa ou nas grifes perto de casa saem como fantasmas do armário e as meias-calças andam como a mão da Família Adams. As mulheres super arrumadas, maquiadas, com sombras multicoloridas e maxi bolsas; todas eram maxi bolsas. Olhei para a minha com desprezo, tão pequenina que mal cabia a carteira.

Maxi será o meu mundo.

E a moda, volúvel; assim como o meu amor.
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segunda-feira, 23 de julho de 2007

(S)Eu Mapa

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um mapa mundi
em mim
um navegador, você
nau veloz pelos meus
mares
ares

a dimensão do oceano
você em meus planos
.....................................................cantos

a baixar meus santos
banhar outros continentes
gosto de você pertinente
OCUPANDO minha mente

para que pente?
.......sua língua
não quero mais escovar os dentes.
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quinta-feira, 19 de julho de 2007

curtas

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vodka faz você dar seta na garagem.
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se o técnico do computador vem, a calcinha está em cima da cama.
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as pulseiras novas fazem muito barulho.
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o calendário só aparece quando a data já passou.
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quem inventou o calendário?
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e esse blog lendário?
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terça-feira, 10 de julho de 2007

os de antropologia são meus



Hoje era o dia. Era o dia de pegar as suas coisas e de tirar o fio desencapado da tomada. Clarissa chegou por volta das dez da noite, e, assim que entrou na Curva do Saldanha, o coração ficou pequeno. Agora era o meio do caminho e ela seguiria em frente. A rua, as esquinas e os prédios que antes abriam passagem para a pressa da chegada e para a ansiedade, agora se multiplicavam para deixar o tempo passar.

Será que ele está em casa?, pensava. Não importava saber, já que estava a uma praça da casa dele. Como de costume, buzinou para avisar que estava lá embaixo. A vira-latas Brigitte logo se atiçou no portão. Subiu lentamente as escadas, circundadas das plantas que plantara; agora grandes. Ficou orgulhosa do tomate-cereja samambaia, que logo iria avermelhar.

Sem palavras, o som era de uma música estranha, nova. No cinzeiro, metade de um charuto e as guimbas de sempre. Objetos antigos e livros espalhados pela sala. Clarissa começou a escolher os que queria. Há um mês, os livros haviam sido levados da famosa biblioteca da família Ramalhete, e agora, era a hora da partilha.

- Posso pegar este? – pergunta Clarissa.
- Pode levar o que você quiser.

Guimarães Rosa, Drummond, Simone de Beauvoir, Augusto dos Anjos, Elmo Elton, Nelson Werneck Sodré, Gilberto Freyre, Dines, Machado, Maupassant, Vinícius, Proust, dentre dicionários e livros de conversação em francês e italiano. O livro espanhol sobre orquídeas brasileiras era mais bonito que uma penteadeira do século XVIII. Ela gostou do livro sobre a história do Jazz, mas sabia que ele não iria deixar.

- E este, pode?
- Não, os de antropologia são meus – disse ele.

Disfarçadamente andou para dentro da casa. O pé direito alto faria falta de tanto ar, os quadros alegres que a irmã copiava de Miró, as casinhas coloridas de cerâmica na parede da porta de entrada, o tapete, o jarro quebrado. A gata estava no cio. A geladeira com os vidros de água vazios. O queijo e a salada no mesmo lugar. No banheiro, o chuveiro que antes era bastidor para uma noite sem fim, agora era um quadrado de azulejos azuis. Triste como os azulejos azuis.

Mais alguns minutos de poeira e mãos sujas, até a descida para o carro. Depois da última sacola, ele a chamou para fumar o último baseado. Ela sabia que não era. Ainda precisava voltar para pegar o violão e as xícaras de chá de maçã.
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