sábado, 23 de agosto de 2008

chegar é dizer adeus


tempos atrás li um texto do João Paulo Cuenca sobre chegar de volta na sua cidade natal e onde você passou a maior parte da sua vida (até agora). 

ele diz que o cotidiano acaba por domesticar não apenas os nossos hábitos, mas também os nossos olhares e lembranças sobre a cidade onde vivemos, sobre as ruas onde depositamos o nosso passado - e a invenção desse passado.

por isso, depois de poucos meses longe de casa, o retorno faz o homem enxergar suas esquinas de estimação com outros olhos. as odisséias mudam, acima de tudo, as cidades de onde partimos. nesse sentido, é como se não houvesse regresso possível, seja ao Rio de Janeiro, Vitória, Ilha da Madeira ou Nice. 

talvez por esse motivo certos barcos adiem a hora de atracar no cais. muitos desistem, dão meia volta ou queimam suas próprias velas. com ou sem alguém à espera, a cidade de partida jamais será a que se encontra na volta.

 

Nenhum comentário: